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Escrito por Água Viva em 23 de jun de 2023 
(atualizado em  13 de jul de 2023)

Fisiologia do mergulho

A Fisiologia do mergulho pode esclarecer muita coisa que ocorre no cotidiano de um mergulhador. Não apenas explica certos aspectos que afetam o corpo, como também ajuda na busca das melhores formas de mergulhar.

Não é de agora que se busca conhecer as diferenças que acontecem no corpo, quando adentra o meio aquático. A preocupação com os problemas que podem afetar o organismo é assunto que se discute desde que o homem descobriu o mergulho.

Além disso, não resta dúvida de que o melhor modo de vencer desafios é encarando-os de frente. Sendo assim, quanto mais se conhece sobre o impacto causado pela imersão, mais se adquire autoconfiança para mergulhar.

Porém, vale ressaltar que qualquer problema que possa vir a ocorrer no mergulho,  pode ser evitado. Para isso, o ideal é adquirir conhecimento através de cursos de mergulho e ter, assim, o apoio de instrutores qualificados.

Aqui te falamos sobre tudo isso. E mostramos que não é preciso temer o meio aquático, mas é necessário sim, conhecê-lo. Mas, primeiramente vamos entender o que é a fisiologia do mergulho.

O que é a fisiologia do mergulho?

A Fisiologia do mergulho estuda a forma como o meio aquático atua sobre o corpo humano. Sendo assim, pode-se dizer que é uma área que pesquisa e analisa o comportamento de nossos órgãos sob a superfície da água.

Em síntese, é o ato de averiguar efeitos como a ação da pressão atmosférica, o impacto da temperatura da água e possíveis interferências e como interferem no processo metabólico.

É por meio da fisiologia do mergulho que são examinadas as consequências da imersão sobre os órgãos respiratórios, sobre a circulação sanguínea, e os sentidos humanos.

O que acontece com o corpo ao mergulhar?

Independentemente da modalidade, seja mergulho com cilindro, mergulho de saturação ou mergulho em apnéia, sempre haverá algum tipo de reação ao afundar na água.

Isso ocorre porque saímos de um meio e passamos a outro, para o qual nosso ser não está adaptado. Sendo assim, quando mergulhamos sofremos os efeitos desta passagem. E nosso organismo reage.

No entanto, é preciso considerar a complexidade do mergulho e as diferenças de profundidade. Nesse caso, o mergulho de saturação é o mais impactado, especialmente devido à pressão atmosférica. Ele vai mais longe, no fundo das águas.

Outro aspecto importante é a descida e a subida do mergulhador. Ambos os movimentos precisam ser bem feitos e bem planejados, conforme a profundidade de mergulho, para evitar consequências desastrosas sobre as funções humanas. Mas, vamos ver com mais calma e entender melhor as reações aos tipos de mergulho.

Reação aos tipos de mergulho

Toda modalidade de mergulho envolve um tipo de reação, visto que nosso corpo não foi criado para coexistir com o meio aquático. Porém, sabemos que existem diferentes modalidades de mergulho. Devido a isso, os efeitos também podem variar conforme as particularidades de cada uma.

É fácil notar que um mergulho com snorkel, por exemplo, é bem mais simples que um mergulho com cilindro, implicando, portanto, em menores efeitos e reações no organismo.

Um mergulho de saturação, por sua vez, supera na questão das dificuldades, já que os riscos que envolve são bem maiores.

Contudo, de forma geral, os efeitos sobre o corpo e as reações são similares, diferenciando-se conforme a complexidade do mergulho.

Ou seja, tanto o mergulhador de apneia, quanto o que utiliza Scuba e o mergulhador de saturação vão sofrer efeitos da pressão atmosférica, da temperatura da água e sobre os sentidos.

Enfim, todo mergulho implica em algum tipo de reação de nosso ser. Observe as seguintes situações pelas quais passa o organismo humano, quando submerge em um mergulho:

  1. Queda de temperatura, (hipotermia)

Para evitar é importante estar protegido, com a roupa adequada. A roupa de neoprene é recomendada, porém existem vários modelos e tipos. A que melhor lhe servirá vai depender do tipo de mergulho que você fará, da temperatura das águas nas quais vai submergir.

2. Alterações circulatórias

    Logo que se tem contato com a água a pressão hidrostática age sobre o corpo. Isso provoca uma reação no organismo que faz com que ocorra desvio de pelo menos 700 ml de sangue para órgãos vitais. Também acontecem reações como bradicardia e vasoconstrição periférica.

    3. Reflexos de mergulho

    O reflexo de mergulho é uma reação natural do corpo quando entramos em contato direto com a água. A imersão total em apneia ativa automaticamente este reflexo, que nos faz prender imediatamente a respiração.

    Porém, até mesmo molhar o rosto ou ficar com o corpo imerso na água provoca esta resposta do organismo.

    4. Alterações respiratórias

    A função respiratória também pode sofrer impactos durante um mergulho. Algumas interferências que podem ocorrer são:

    • Aumento do espaço morto respiratório, (espaços do aparelho respiratório onde não ocorre troca gasosa);
    • Aumento da pressão respiratória e aumento da concentração de gás carbônico na circulação sanguínea e tecidos.

    Reações mais comuns no Mergulho livre em apneia

    Mesmo quando trata-se de mergulho livre, nosso organismo se ressente mediante mudanças nas condições normais de temperatura e pressão. Aliás, existem algumas situações que surgem, mais frequentemente, nesta modalidade. Por exemplo, a Bradicardia e o Apagamento.

    5. A bradicardia

    Acontece devido à capacidade de defesa do organismo. Quando prendemos a respiração para um mergulho na apneia, nosso corpo quer garantir nossa sobrevivência.

    Por isso, enquanto a respiração está suspensa, no decorrer do mergulho, o ritmo cardíaco é reduzido, configurando bradicardia. Com a diminuição do ritmo cardíaco, o coração não consegue bombear o sangue rico em oxigênio de forma eficiente para o corpo e assim afetando a capacidade física. É uma resposta involuntária do organismo.

    6. O Apagamento

    Condição que assusta a maioria dos mergulhadores de apneia. O mergulho livre é a modalidade que sujeita o organismo a esse tipo de reação no meio aquático. O que provoca o apagamento é o consumo elevado de oxigênio durante o mergulho.

    Muitas vezes, durante um mergulho livre mais demorado, o estímulo ao centro respiratório, que leva a sentir necessidade de respirar, não ocorre ou custa a ocorrer.

    Quando o mergulhador, finalmente percebe a pressão do CO2, e sente  grande necessidade de respirar, ele inicia a subida.

    Por fim, com a diminuição da pressão atmosférica devido a subida, ocorre também uma brusca diminuição na pressão parcial do oxigênio, causando desmaio.

    Assim sendo, com o oxigênio em níveis muito baixos, o mergulhador apaga na subida. No entanto, volta à consciência ainda submerso e inicia o processo respiratório involuntariamente. Nessas condições, inconscientemente inspira água e ocorre afogamento.

    Efeitos da mudança de pressão atmosférica

    Ao nível do mar, na superfície, estamos sujeitos a pressão atmosférica de 1 atm. Contudo esta pressão vai aumentando ao adentrarmos o meio líquido. Sendo assim, quando mergulhamos a 10 metros de profundidade já estamos carregando sobre nós o peso de 2 atmosferas.

    Portanto, sofremos efeitos da pressão atmosférica de dois modos: efeitos diretos ou indiretos.

    • Efeitos diretos: Barotraumas; Embolia Traumática.
    • Indiretos.

    Podem ser efeitos bioquímicos: - Narcose, Intoxicação pelo Oxigênio, Intoxicação pelo Gás Carbônico, Intoxicação por outros gases e o Apagamento.

    Ou Efeitos Biofísicos como a doença descompressiva.

    7. Barotraumas

    Alguns distúrbios que podem acontecer devido à pressão atmosférica são os barotraumas. São lesões provocadas pela expansão ou compressão de gases que ocupam algumas estruturas do corpo.

    8. Doença descompressiva

    Este distúrbio ocorre quando o mergulhador sobe rápido demais à superfície, sem realizar as paradas descompressivas essenciais.

    Em virtude da longa permanência do mergulhador debaixo d'água, sob os efeitos de alta pressão atmosférica, muito nitrogênio pode ser absorvido. Este gás não é consumido pelo organismo e forma bolhas no sangue e tecidos. Estas bolhas podem bloquear o fluxo sanguíneo para o cérebro, causando morte.

    Para evitar doença descompressiva alguns cuidados devem ser tomados. Tanto o mergulhador profissional, quanto o recreativo devem planejar seus mergulhos para não ultrapassarem os limites de não descompressão.

    Principalmente o mergulho com cilindro, exige a utilização de tabelas de mergulho, onde constam profundidades relacionadas ao tempo de permanência no fundo. Trata-se de modo eficaz de evitar doença descompressiva.

    Por isso, quem está iniciando deve buscar uma escola de mergulho de qualidade, que conte com instrutores experientes, para orientar o uso destas tabelas.

    9. Efeitos sobre os ouvidos e seios da face X equalização

    Estes espaços de nosso corpo contém ar. Quando mergulhamos, a pressão externa vai pressionando o ar na direção destes espaços. Essa compressão provoca aquela pressão nos ouvidos e face, causando até mesmo dores de cabeça. A sensação inicial é similar à que se sente ao subir e descer uma serra.

    Para solucionar este problema são usadas técnicas para equalizar a pressão, ou seja, para tornar a pressão interna semelhante à externa. Todo mergulhador precisa aprender estas técnicas.

    Quando não ocorre equalização adequada, o efeito pode resultar em problemas mais graves denominados barotraumas.

    Devido a esta situação, que comumente ocorre, não é recomendado mergulhar estando resfriado, gripado ou com problemas de alergias respiratórias. Nestas condições a equalização é dificultada.

    Mesmo que esteja utilizando descongestionante nasal, o mergulho não é possível,  pois assim que o efeito do remédio passa o problema pode retornar.

    Também podem ocorrer durante o mergulho:

    1. Embolia gasosa arterial

    Ocorre quando o fluxo de sangue é bloqueado por bolhas, que se formam nas artérias. O distúrbio impede que a circulação ocorra normalmente e alcance os tecidos e órgãos.

    1. Toxicidade gasosa no mergulho

    Toxicidade do oxigênio e Narcose por nitrogênio - podem ocorrer em mergulhos profundos. Devido a efeitos tóxicos destes gases absorvidos em concentrações inadequadas.

    A Narcose também é conhecida como “embriaguez das profundidades”, pois os efeitos são semelhantes a alguém que tomou alguns “drinks”, levando a uma sensação de euforia, com diminuição da capacidade de raciocínio.

    Normalmente não é perigoso, mas é importante identificar os sintomas e saber lidar com os efeitos, como por exemplo retornar para profundidades menores.

    A fisiologia do mergulho na descida

    Na descida para o fundo das águas, nos sujeitamos ao peso de maior pressão atmosférica. Em virtude disso, os gases presentes em nosso organismo são comprimidos e diminuem de volume. Essa reação pode ocorrer nos pulmões, ouvidos e seios da face.

    Para evitar prováveis lesões é preciso recorrer a técnicas de equalização, como por exemplo a manobra de Valsalva. Esta consiste em segurar o nariz com os dedos e forçar a saída do ar, exercendo uma pressão.

    A fisiologia do mergulho na subida

    Por outro lado, na subida a pressão diminui e os gases se expandem, aumentando de volume. Tanto o oxigênio quanto o nitrogênio podem causar dificuldades. O oxigênio é liberado em alta intensidade, podendo provocar desmaios.

    O nitrogênio, por sua vez, pode provocar bolhas na corrente sanguínea e tecidos, levando à doença da descompressão.

    Todavia, estes problemas podem ser evitados. Mergulhar sob a orientação de instrutores de mergulho experientes, usando tabelas de mergulho, impede muitas dificuldades.

    Quais são as vantagens do mergulho para o corpo?

    Pode-se dizer que mergulhar é sinônimo de preservação da saúde. São muitos os aspectos positivos. Entre as principais vantagens estão:

    • Melhora do corpo e da saúde mental;
    • Melhora do condicionamento físico;
    • Aumento de energia;
    • Otimiza a tonificação muscular;
    • Promove queima de calorias excedentes, ajudando a emagrecer;
    • A respiração se torna mais eficiente;
    • Ocorre relaxamento e redução do estresse;
    • Eleva a autoestima;

    É uma excelente fonte de lazer e entretenimento saudável.

    Cuidados ao praticar mergulho

    Antes de mais nada é preciso levar em conta que o corpo necessita de atenção, ao mergulhar. Portanto, lembre-se sempre dos cuidados essenciais, principalmente dos que podem evitar as reações e efeitos aqui citados.

    Logo, previna-se e siga algumas orientações:

    • Nunca mergulhe gripado, pois dificulta ou se torna impossível a manobra da equalização;
    • Execute, durante a descida, a manobra de Valsalva (equalização). Ponha em prática à medida que for descendo. Se deixar para executar a manobra, somente quando chegar no fundo do mar, a pressão será maior, e a força para executá-la terá que ser maior também. Isso eleva o risco de lesões no ouvido;
    • Faça check up médicos, com a finalidade de identificar problemas de saúde que impeçam a atividade de mergulho. Exemplos são algumas doenças cardíacas e problemas respiratórios graves;
    • Ajuste corretamente a máscara de mergulho. Ela não deve ficar muito apertada no rosto. Quanto mais profundo, maior será a pressão contra o rosto e assim maiores são as chances de barotrauma;
    • Planeje corretamente o mergulho, respeitando as tabelas de mergulho (RDP) para determinar pontos essenciais como: tempo máximo em uma determinada profundidade, parada de descompressão e intervalo de tempo na superfície entre os mergulhos.

    Mergulhar é um prazer fascinante. E se torna uma atividade mais incrível ainda, depois que se conhece a Fisiologia do mergulho. Conhecer bem a atividade que se pratica é a melhor forma de evitar problemas.

    Conclusão

    A Fisiologia do mergulho é a área que nos ajuda a evitar possíveis dificuldades no meio subaquático. Através dela se toma conhecimento dos efeitos da temperatura e da pressão atmosférica, e as reações do corpo, quando imerso.

    Estes efeitos e reações ocorrem em qualquer modalidade de mergulho. Todos os  tipos estão sujeitos a alguma situação indesejada.

    Daí a importância da Fisiologia do mergulho que nos ajuda a analisar a ação da pressão atmosférica, o impacto da temperatura da água e possíveis interferências que acabam por causar efeitos negativos em nosso metabolismo.

    Entre os mais preocupantes estão dificuldades como: Hipotermia; Alterações circulatórias e respiratórias; Reflexo de mergulho; Bradicardia; Apagamento, Barotraumas; Interferência de gases e possíveis toxicidades, ouvidos e seios da face.

    Apesar de tantos efeitos serem reconhecidos por meio da Fisiologia do mergulho, a atividade não deixa de ser segura e incrivelmente emocionante.

    Tomando os cuidados necessários e estando bem informado, os riscos se tornam insignificantes. Nada há a temer, restando, portanto, a parte mais prazerosa e mais útil à nossa saúde.

    A Fisiologia do mergulho nos concede bem mais do que simples conhecimento. Tem sido suporte relevante para que o mergulho ocorra da forma mais segura possível.

    E você, já conhecia a fisiologia do mergulho?

    Gostou das informações? Se ainda tiver dúvidas deixe nos comentários. Se achou interessante, compartilhe. Mas, se deseja ser um mergulhador de verdade, procure a Escola Água Viva Mergulho e desperte o mergulhador top que há em você.

    Água Viva
    Escrito por Água Viva
    A Água Viva Mergulho foi fundada em 2012 com o objetivo de difundir o Mergulho Autônomo em Florianópolis/SC e em todo território nacional, através da sensibilização dos mergulhadores para a preservação da vida marinha e de todo o meio ambiente.

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